Rio Vez – Arcos de Valdevez
O primeiro ponto de paragem da aula de campo, ocorrida no dia 11 de Março deste ano, foi em Arcos de Valdez, mais concretamente nas margens do rio Vez.
Como já é do nosso conhecimento, num rio podem ser distinguidos três tipo de leitos (espaço que pode ser ocupado pelas águas): leito ordinário (sulco por onde normalmente correm as águas e os materiais que transportam), leito de cheia (espaço que é inundável em época de cheia, quando o nível das águas ultrapassa os limites do leito ordinário) e leito de estiagem (área mais profunda do canal fluvial ocupada por uma menor quantidade de área).
No rio Vez, no local da sua margem, podem ser constatados vários conceitos geológicos, associados à ocupação antrópica. O rio estava com um leito ordinário, isto é, ocupava o seu sulco habitual, porém nós próprios estávamos no leito de inundação. Foi possível chegar a este juízo, já que no local em que nos encontrávamos havia vários detritos provenientes do rio. Entre esses detritos destacam-se areia e vários tipos de rocha, estando estes espalhados e amontoados ao longo de toda a margem.
Não obstante existiam indícios de “mão humana” (vestígios antropológicos), tais como: iluminação eléctrica, jardins, cercas, entre outras. Dá-se, mesmo, neste local a feira local, desde 1946.
Apesar de ser errado ocupar o leito de cheia, poderia ser bem pior se nesta área existisse a construção de edifícios, pois a possibilidade de ocorrência de cheias o leito de cheias iria ficar inundado, por conseguinte haveria estragos materiais e até, eventualmente, perdas de vidas humanas.
Observação da derrocada em Frades
No passado dia 11 de Março realizou-se uma aula de campo, numa das suas paragens foi-nos possível observar os resultados de um movimento em massa. Este ocorreu em Frades, freguesia de Arco de Baúlhe.
É de nosso conhecimento que se designam por movimentos em massa quaisquer movimentações de rocha numa superfície inclinada. São acontecimentos erosivos e alteram significativamente a paisagem. Por vezes estas movimentações são tão lentas que o Homem não se apercebe delas, porém, outras, como ocorreu em Frades são súbitas e atingem velocidades na ordem da centena de km/h. As consequências para o Homem são desastrosas e provocam ocasionalmente catástrofes, englobando a perda de vidas humanas e prejuízos materiais significativos.
Em Frades, dia 7 de Dezembro de 2000 após um período intenso de chuvas deu-se um movimento de massa súbito. Este causou a morte a quatro pessoas e á destruição de casas na vertente.
Após este acontecimento os habitantes queriam recomeçar as construções de casas, assim, verifica-se o desconhecimento das consequências e da gravidade da situação. Por isso, foram elaboradas cartas de ordenamento de território, estas determinam as áreas para habitação, de agricultura, de interesse ecológico. Também foram elaboradas cartas de risco geológico e aquela zona acabou por ser considerada de risco elevado, ficando os habitantes sem autorização para a reconstrução das casas.
Tudo isto aconteceu em 2000, porém, 10 anos passados, ainda é possível observar-se onde se deu o movimento. Na aula foi-nos possível ver o movimento em duas paragens. Na primeira estivemos no foco do mesmo. Na segunda paragem vimos a “cicatriz” que aquele movimento deixou na encosta.
Na minha opinião este foi um local de paragem que nos mostrou que o Homem, apesar de cientificamente avançado, não consegue controlar a força da Natureza. Porém, é-lhe possível prevenir futuras catástrofes por um melhoramento das medidas de prevenção, pela criação de cartas de ordenamento de território e cartas de risco geológico. Estas, ajudarão as populações a estarem preparadas para catástrofes e a saberem agir no caso delas acontecerem.
Caus de blocos na Serra D’Arga
Durante a aula de campo, podemos ainda observar a Serra d’Arga.
Esta é constituída essencialmente por granito, uma rocha magmática intrusiva formada por diversos minerais, os principais são: o quartzo, as micas e os feldspatos.
Já abordámos nas aulas de geologia o processo de meteorização do granito.
Foi possível, durante a aula, observar de perto o resultado da meteorização e erosão do granito.
Como podemos observar na imagem existem vários blocos de granito que se encontram separados, devido a processos de meteorização e erosão.
Este efeito é mais notável em rochas granulares, como o granito. Esta rocha sofre, ao longo de milhares de anos, deformações e pressões em profundidade, e quando encontra a superfície (através de movimentos tectónicos e/ou remoção das camadas suprajacentes) fica sujeita aos agentes erosivos.
Os maciços graníticos apresentam inúmeras superfícies de fractura, chamadas diáclases (formadas por tensões internas ou descompressões), estas fracturas favorecem a alteração da rocha uma vez que aumentam a exposição da mesma. Assim os seus minerais perdem a coesão e desagregam-se mais facilmente. As diáclases podem aumentar o seu tamanho através da actuação da água, que por acção do efeito do gelo, isto é se por causa do abaixamento de temperatura a água solidifica no interior da rocha, provoca uma maior desagregação da mesma.
Durante todo o processo de meteorização minerais primários da rocha são desagregados e por isso podem ser facilmente arrastados da mesma, fazendo com que esta fique mais arredondada, dando origem a uma paisagem que se designa por caos de blocos.
Estas “bolas de rocha” ficam expostas à erosão continuamente, mas as alterações começam a ser menos visíveis uma vez que toda a superfície passa a ser atacada por uma força uniforme.
Nesta passagem pela Serra d’Arga podemos observar esta paisagem e, como se visualiza na imagem, constatamos que existem blocos mais arredondados do que outros, demonstrando a actividade geológica do nosso planeta que se caracteriza por ser progressiva e muito lenta.
Linha Costeira de Ofir e Apúlia
Já na recta final da nossa visita de estudo, visitámos as praias de Ofir e Apúlia. Nestas praias, observou-se claramente o avanço do mar nas praias e, também, consequências dos esporões.
Quem viu o mar e quem o vê! Actualmente, a área costeira nestas praias está muito menor que há cerca de 10 anos atrás, em que o mar se distanciava umas boas centenas de metros do mar e, actualmente, são apenas algumas dezenas de metros de areal. O mar tomou grande parte das praias portuguesas e, tanto a praia de Ofir como a de Esposende e Apúlia, são testemunhas vivas disso. Tais avanços devem-se à intensiva erosão costeira, provocada pela subida do nível médio das águas do mar e pela redução dos sedimentos depositados do mar (consequência de, por exemplo, construções de barragens).
Verificámos, em Ofir, a existência de estruturas que evitavam o avanço do mar em algumas zonas mas, em consequência, prejudicava outras zonas. Mesmo em frente às “Torres de Ofir”, estava construído um esporão que acumulava sedimentos no local, aumentando o areal da praia mas, consequentemente, diminuindo o areal das praias a jusante do mesmo e prejudicando as populações que se situavam nesse mesmo local (a sul).
De todas as consequências que se verificam do avanço do litoral, destacam-se as que afectam as construções que estão muito perto do areal (Torres de Ofir, por exemplo). Estas construções, ao verificar-se o avanço do mar, ficam em perigo de derrocada, pois o areal da praia diminui até afectar o areal que está na base das torres, afectando as suas estruturas e segurança. Pior que isto, é o facto da construção de estruturas na tentativa de evitar o avanço do mar (esporões, por exemplo), que só ajuda a situação no local mas prejudica gravemente os locais seguintes à construção.
Em suma, não há nada que consiga combater a força da natureza. De certo modo, esta força é provocada por nós, humanos, através do aquecimento global e da construção de barragens (entre outros), por isso, só estamos a ser vítimas das consequências dos nossos erros. A Natureza deve ser preservada, para que ela nos preserve a nós.